quarta-feira, 27 de agosto de 2008

ELEGÂNCIA É TUDO?

SER ELEGANTE

Existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, esteja
cada vez mais rara: a elegância do comportamento. É um dom que vai muito
além do uso correto dos talheres e que abrange bem mais do que dizer um
simples obrigado diante de uma gentileza.

É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de
dormir e se manifesta nas situações mais prosaicas, quando não há festa
alguma nem fotógrafos por perto. É uma elegância desobrigada.
É possível detectá-la nas pessoas que elogiam mais do que criticam. Nas
pessoas que escutam mais do que falam. E quando falam, passam longe da
fofoca, das pequenas maldades ampliadas no boca a boca.
É possível detectá-la nas pessoas que não usam um tom superior de voz ao se
dirigir a frentistas, por exemplo. Nas pessoas que evitam assuntos
constrangedores porque não sentem prazer em humilhar os outros.

É possível detectá-la em pessoas pontuais. Elegante é quem demonstra interesse por assuntos que desconhece, é quem presenteia fora das datas festivas, é quem cumpre o que promete e, ao receber uma ligação, não recomenda à secretária que pergunte antes quem está falando e só depois manda dizer se está ou não está. Oferecer flores é sempre elegante. É elegante não ficar espaçoso demais. É elegante você fazer algo por alguém, e este alguém jamais saber o que você teve que se arrebentar para o fazer... Porém é elegante reconhecer o esforço, a amizade e as qualidades dos outros.
É elegante não mudar seu estilo apenas para se adaptar ao outro. É muito
elegante não falar de dinheiro em bate-papos informais. É elegante retribuir
carinho e solidariedade. É elegante o silêncio, diante de uma rejeição...
Sobrenome, jóias e nariz empinado não substituem a elegância do gesto. Não há livro que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo, a estar nele de uma forma não arrogante. É elegante a gentileza. Atitudes gentis falam mais que mil imagens...Abrir a porta para alguém é muito elegante... Dar o
lugar para alguém sentar... é muito elegante... Sorrir, sempre é muito
elegante e faz um bem danado para a alma... Oferecer ajuda... é muito elegante...
Olhar nos olhos, ao conversar, é essencialmente elegante... Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural pela observação, mas tentar imitá-la é
improdutivo. A saída é desenvolver em si mesmo a arte de conviver, que
independe de status social: Se os amigos não merecem uma certa cordialidade,
os desafetos é que não irão desfrutá-la.

Henri Toulosse Lautrec (1864-1901)



E então? Somos ou não somos elegantes?

terça-feira, 5 de agosto de 2008

UM PROFESSOR DE JOVENS E ADULTOS


Eis aqui o relato de um professor de Jovens e Adultos. É o José Hilton, que vocês estão vendo na imagem acima e que dá aula em Serra Pelada no Pará.
"Ficar rico. Era esse o sonho do meu pai e de um monte de homens que saíram do Maranhão nos anos 80 e 90 com um destino: Serra Pelada no Pará. Eu tinha 10 anos quando deixamos São Pedro da Água Branca no extremo oeste do estado e chegamos naquele que, na época, era o maior garimpo a céu aberto do mundo.
Chegamos quando Serra Pelada estava no final. O auge, na metade dos anos 80, quando chegaram a tirar 14 toneladas de ouro em um ano, tinha ficado para trás. Mesmo adolescente eu começava na lavoura às 6:30h da manhã e ia direto até às seis da tarde. Depois do trabalho, freqüentava a escola em Serra Pelada.
Apesar de adolescente não sabia ler ainda. Mas era grande minha vontade de melhorar de vida. Adorava Matemática e nos intervalos do trabalho carregava um livro de cálculo a tiracolo e ficava resolvendo contas. À noite, sempre estudava mais um pouquinho. O povo ria de mim, dizendo que eu era louco de trabalhar o dia todo e ficar em cima de livro à noite.
Com o supletivo, consegui me formar no Ensino Médio aos 19 anos. Sem chances de fazer uma faculdade, continuei na enxada até que um dia recebi uma visita. Era um funcionário da Prefeitura de Curionópolis, cidade maior que fica à uma hora de Serra Pelada. Ele me disse que comentaram com ele que tinha um peão na roça com segundo grau e que estava precisando de alguém com estudo para dar aulas para uma turma de 4ª série de uma escola municipal.
Fiquei apavorado. Eu trabalhava com enxada, no trabalho pesado e de repente virar professor!. Mas achei que era a oportunidade que eu estava esperando. Topei e prometi fazer meu melhor. Assim começou minha carreira nas salas de aula que já dura quase dez anos.
Larguei a roça e consegui ser aprovado no vestibular da Universidade Estadual do Vale do Acaraú (UVA) em Belém, a capital do Pará. Continuei dando aulas nos quatro anos e meio de duração do curso de Pedagogia. Não foi fácil levar a jornada dupla, mas foi na faculdade que conheci Paulo Freire, Piaget e toda bagagem teórica que eu não tinha para ser um professor. Hoje tenho 27 anos e, além de professor, me tornei formador de professores. Sou o responsável por instruir os mestres de Matemática que dão aula para as turmas de 5ª a 8ª séries do Ensino Fundamental em Serra Pelada. Mas o trabalho que me dá mais gosto são as aulas que dou à noite para Educação de Jovens e Adultos (EJA). É emocionante ver pessoas com 50, 60 anos que trabalharam a vida inteira na roça, aprendendo a fazer contas pela primeira vez. O importante é ter vontade de melhorar e aprender, como eu tive.